26. O QUE VÊS?

 

Olha para a imagem. Provavelmente já adivinhaste a pergunta. O que vês?
 
Depois das respostas – vejo números, operações numéricas, fundo preto com números e símbolos a branco, blá, blá, blá… responde ao que o teu cérebro faz automaticamente. O cálculo. E agora o que vês?
Ponho as mãos no fogo em como a tua resposta é – Uma conta está errada. Acertei?
Ao longo dos anos, tenho usado inúmeras vezes este exercício com largas centenas de pessoas. 
99,9% das vezes, a resposta é uma conta está errada. A única excepção, foi um dos participantes numa palestra que dei em Nashville, Tennessee nos EUA em 2012, na Conferência Internacional da American Re-Education Association. 
No meio de dezenas de pessoas, Nicholas Long escuta com o seu perspicaz sorriso desde o momento em que olhou para a imagem. Após ouvir várias respostas, diz: “três contas estão certas“.
Nicholas Long é autor de vários livros e um dos profissionais mais influentes nas abordagens terapêuticas com crianças e jovens em crise. A sua experiência, assente nos pontos fortes, respeito, conexão e relação, ensinou-lhe desde muito cedo a importância de estarmos focados nos aspetos positivos. No que está bem. Não como forma de minimizar o que não está, mas como estratégia para ampliar o que é bom e trabalhar o que precisa de ser melhorado a partir daí.
Esta é uma lição que felizmente aprendi muito cedo no meu percurso a trabalhar com outros profissionais que intervêm diariamente em situações de crise com crianças, jovens e famílias. É também uma lição que trouxe para a vida e que quero partilhar convosco.
Temos uma tendência natural para nos focarmos no que está errado. Valorizamos o mau de tal forma, que precisamos de 5 elogios para anular os efeitos psicológicos e emocionais de uma crítica. Parece um exagero, certo? Não seria se toda a nossa educação e foco não estivessem no que não corre bem.
Vemos isso nos mais diferentes contextos – desde o familiar, ao escolar e até ao profissional. Os exemplos mais comuns:
– “Não faço elogios porque a Sónia não faz mais do que a sua obrigação quando faz bem feito. É isso o que é esperado dela”. – Neste caso não há margem para o erro. É esperado que a Sónia corresponda sempre à expectativa que deve ser bem elevada, senão mesmo irrealista!
– “Só aponto as críticas porque é isso que tem que ser corrigido. O resto está bem como está, não tenho nada a dizer.” – Ou seja, só tem alguma coisa a dizer se for para apontar o dedo. Não tenho nada a dizer ou a acrescentar, é uma das respostas mais comuns quando está tudo bem.
Andamos assim à procura das falhas. Em primeiro lugar porque fomos condicionados a fazê-lo e em segundo porque quando algo não corre bem, se estamos perante um problema ou precisamos de uma solução, o nosso cérebro vai continuar a trabalhar até encontrar a resposta. 
Os psicólogos chamam a este fenómeno o efeito de Zeigarnik – tendência para nos recordarmos mais das tarefas incompletas. Em 1920, a psicóloga Russa Bluma Zeigarnik descobriu que os seres humanos não se conseguem esquecer de tarefas por acabar. Até mesmo durante o sono, o nosso cérebro tenta resolver os problemas. Se não nos lembramos do nome de alguém por exemplo, o cérebro continua à procura até encontrar a resposta.
Há um sentido de ordem que procuramos inconscientemente nas nossas vidas. Não só em relação às rotinas e tarefas, mas na arrumação dos problemas e preocupações na nossa vivência interna. Temos um cérebro preguiçoso que gosta de padrões e de previsibilidade. Quando há perguntas por responder, respostas erradas, ou soluções por encontrar, o nosso cérebro não descansa enquanto não resolver o problema.
O foco vai naturalmente para o que está fora de ordem, porque precisamos de ordenar. E o erro, enquadra-se neste categoria. 
Contudo, nas dinâmicas interpessoais, o foco exclusivo no erro inibe a experimentação. Principalmente quando conjugado com a crença de que o erro é algo negativo ou a evitar e que tem que ser rapidamente corrigido. 
Neste caso e paradoxalmente, o foco no erro promove a rotina previsível, inibindo a maior parte das vezes a procura de soluções. O erro cria desconforto e o medo instala-se.  A ausência de retorno positivo e o reforço do que está mal, aumenta o sentimento de incompetência e ineficácia.
Recordas-te que precisamos de 5 elogios para anular o efeito de uma crítica? A próxima vez que estiveres focado no erro de outra pessoa, procura identificar 5 coisas que estão bem.
Este exercício vai ajudar-te a ver para além do que é previsível. E a encontrar nesse espaço as soluções que precisas para resolver enigmas ativando outras formas de pensar e de olhar para os problemas.
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