Reza a lenda que algures na Alemanha há umas largas centenas de anos, as mulheres inventaram a cerveja. Enquanto cuidadoras do lar e fazedoras de pão, mantinham os cereais armazenados para o uso culinário. E foi a fermentação dos grãos de cevada que levou essas mulheres a pensarem no reaproveitamento deste cereal para outro fim que não o pão. O empreendedorismo foi o passo seguinte. E as mulheres começaram a vender este néctar tão apreciado e cobiçado para trazer mais uns tostões para o sustento da família.
Como era necessário manter a cevada longe dos ratos, nada como encher a casa de gatos. A vassoura, colocada à porta de casa, permitia sinalizar que a bebida estava disponível para ser comprada.
Encontrar as mulheres cervejeiras no mercado não era difícil: elas usavam chapéus grandes e pontiagudos para serem reconhecidas pelos clientes. E geralmente estavam diante de grandes caldeirões, onde o líquido era produzido.
Os monges atentos, não perderam tempo. E sem demora, demonizaram estas mulheres, iniciaram uma verdadeira caça às bruxas e reivindicaram para si o negócio do milénio. Com o nascimento da cerveja, nascem também as bruxas.
Os gatos, as vassouras, o caldeirão e o chapéu pontiagudo símbolos tão fortemente associados a estas criaturas, serviam de sinalizador para a sua captura.
Sem qualquer fundamento científico, esta foi a minha interpretação da história contada por uma Guia turística em Trujillo, Espanha durante uma viagem pelo passado.
Mito ou verdade, esta é mais uma das histórias em que facilmente compreendemos a origem dos mitos que alimentamos ao longo da história e que podem ditar tendências. De quem detém os negócios, do lugar das pessoas de acordo com o seu género, condição, estatuto ou idade.
E neste momento, enquanto celebramos a noite das bruxas, vestimo-nos de proibido. Apelamos à inquisição, desafiamos as autoridades e representamos o demónio. Sentimos a adrenalina de estar do lado do oculto e ser um diferente, tão igual a tantos outros também mascarados.
E se tudo correr bem, bebemos cerveja. Mascarados ou não, saciamos a sede de um néctar transformado em masculino, com uma origem 100% feminina.
Para as mulheres que lêem este artigo, desejo que sejam autênticas bruxas. Que vistam o chapéu e que desafiem o status quo. Porque hoje, se houver outra caça, estamos melhor preparadas do que nunca para reivindicar a feminilidade da cerveja. Com tantas outras bruxas e bruxos que tal como nós, afirmam as suas criações e libertam-nas para o mundo!
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